Luís Caetano Pereira de Carvalho (1862-1933) foi construtor civil, mestre carpinteiro e 2.º comandante do Corpo de Bombeiros Municipais de Lisboa. Estas três dimensões juntaram-se no trabalho que pacientemente desenvolveu em sua casa, ao longo de 26 anos: uma maqueta de Lisboa, iniciada em 1906 e nunca terminada.
A maqueta do bombeiro (como é carinhosamente tratada pela equipa do Museu de Lisboa) integra o acervo da Câmara Municipal de Lisboa desde 1954 e foi objeto de investigação por técnicos do Museu de Lisboa e do Regimento de Sapadores Bombeiros Municipais, por especialistas na história do socorro na cidade e por familiares de Luís Caetano Pereira de Carvalho.
A exposição, organizada pelo Museu de Lisboa em colaboração com o Regimento de Sapadores Bombeiros, é o resultado dessa investigação. Para além da história da maqueta e do seu autor, permitirá conhecer melhor a fisionomia de parte de Lisboa em inícios do século XX e compreender os desafios que então se colocavam à segurança de pessoas e bens em caso de incêndio.
Numa cidade onde a madeira constituía ainda a base do parque edificado, o risco de incêndio era potencialmente devastador, como sucedeu na madrugada de 10 de abril de 1907, num prédio da Rua da Madalena. O combate a este incêndio, também objeto de análise na presente exposição, motivou uma das muitas condecorações de Luís Pereira de Carvalho. No relatório, o bombeiro incluiu uma série de desenhos reveladores da progressão do fogo, dos meios disponibilizados para o seu combate e das operações logísticas associadas.
A maqueta tem 2,21 m de comprimento e 0,89m de largura. Retrata uma parte de Lisboa situada entre o Terreiro do Paço e o Regueirão dos Anjos, tendo como limites laterais o Castelo de S. Jorge e o miradouro de Nossa Senhora da Graça (a nascente) e o Largo do Corpo Santo e a Praça dos Restauradores (a poente).
À escala 1:1000, e integralmente feita em madeira policromada, é um documento fidedigno da cidade nas primeiras décadas do século XX, em que todos os prédios foram criteriosamente estudados pelo autor e representados com as características e as cores que detinham à altura.
Apesar de realizada há cerca de um século, são muitas as diferenças para com Lisboa atual. Na Praça da Figueira, ainda existia o mercado em ferro e vidro (demolido em 1949), a Praça do Martim Moniz não tinha sido ainda definida e o Castelo de S. Jorge servia de instalação a uma guarnição militar, bem longe da vocação turística atual.
Cidade-miniatura. A maqueta de Lisboa pelo bombeiro Luís Pereira de Carvalho está patente no Museu de Lisboa-Palácio Pimenta até dia 3 de setembro de 2023.