A mais recente exposição temporária da Casa Fernando Pessoa põe lado a lado as bibliotecas particulares de Almada Negreiros e Fernando Pessoa. Almada e Pessoa – Conversa entre bibliotecas mostra edições raras, manuscritos e dedicatórias personalizadas.
As bibliotecas dos artistas e escritores deixam ver o circuito de relações que se fazem e desfazem ao longo da sua vida, as suas amizades e os seus interlocutores intelectuais. Os livros que os escritores e artistas lêem, sublinham, comentam, ilustram, editam, oferecem e recebem de oferta, são parte, fonte, ou extensão da sua obra.
Almada Negreiros e Fernando Pessoa conheceram-se em 1913, e em 1915 Almada foi um dos colaboradores da revista Orpheu, criada por Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro, e tida como o momento inaugural da vanguarda literária e artística em Portugal.
Nesta exposição, com curadoria das investigadoras Mariana Pinto dos Santos, Giorgia Casara e Teresa Monteiro, mostra-se uma seleção dos livros que pertenceram a Almada Negreiros, postos em diálogo com os de Fernando Pessoa, tendo em conta a cumplicidade que partilharam, as suas amizades e projetos que tiveram em comum.
É possível ver manuscritos, livros com dedicatórias preciosas, edições raras. Na biblioteca particular de Almada Negreiros, encontram-se livros com dedicatórias assinadas por Natália Correia, Jorge de Sena, Teixeira de Pascoaes, Aquilino Ribeiro e até de Vinicius de Moraes, entre muitos outros, mostrando a rede de cumplicidades pessoais e artísticas de um dos mais multifacetados artistas portugueses do século XX.
São aqui mostradas pela primeira vez dois projetos de maquetes ilustradas da Mensagem que Almada fez, mas que nunca chegou a publicar, assim como uma primeira edição da Mensagem dedicada por Fernando Pessoa a Almada, em que o trata por «Bebé de Orpheu!»
As ligações entre Pessoa e Almada Negreiros são múltiplas: Almada foi o autor do logótipo da editora que Pessoa fundou, a Olisipo, e foi lá que publicou o seu livro A Invenção do Dia Claro, (1921), também presente na exposição.
Ambos planeavam o número 3 da revista Orpheu, projeto interrompido pela morte repentina de Fernando Pessoa, em 1935.
Segundo a curadora Mariana Pinto dos Santos, “Almada foi um impulsionador da criação do mito Pessoano. Ao isolar a sua imagem no famoso retrato que fez para o Restaurante Irmãos Unidos, onde o grupo da revista se reunia – e que pode ser visto na exposição permanente da Casa Fernando Pessoa – , Almada está a inscrever-se também no mito, ao ser o autor da imagem de Pessoa que iria ser perpetuada.”
Segundo a curadora, esta é uma das mais valias desta nova exposição, abrir novas perspetivas e ligações com outras peças que integram a coleção do museu.