Referência maior da história do Fado, Celeste Rodrigues faria 100 anos no dia 14 de Março de 2023.
Recordar a sua vida e o seu legado é celebrar uma complexa geometria temporal que acompanha mais de sete décadas de actividade artística e que ilumina boa parte da história do Fado dos séculos XX e XXI.
No quadro do Centenário de Nascimento da artista, revisitamos o seu vastíssimo legado através da sua discografia, dos seus repertórios, troféus, galardões, adereços de actuação, periódicos, pinturas e filmes, numa exposição em que vários testemunhos se combinam para iluminar a sua biografia artística.
Ao refazermos o mosaico desta fascinante viagem, ganhamos uma mais nítida e fundada consciência do lugar central de Celeste Rodrigues na história do Fado e do seu papel na renovação deste género musical e na sua projeção internacional.
CELESTE está patente no Museu do Fado, até 30 de dezembro de 2023.
“Celeste Rodrigues viveu 95 anos de uma vida rica. Uma vida plena de muitas outras vidas. (…) Desde a sua estreia, aos doze anos, interpretando o Fado dos Três Bairros na Marcha de Alcântara, desenhou um caminho feito de um amor imenso à arte que abraçou. Ao longo de mais de sete décadas de actividade artística, pisou os palcos das salas de concerto mais prestigiadas do mundo, cantou regularmente nas melhores casas de Fado de Lisboa e gravou largas dezenas de discos, tendo sido das primeiras fadistas a consagrar-se internacionalmente. A relação familiar de enorme proximidade com a artista portuguesa mais universal de todos os tempos – Amália Rodrigues, sua irmã, três anos mais velha – nunca a impediu de desenhar um itinerário artístico pleno de autenticidade e de consolidar um vastíssimo legado onde se inscrevem inúmeros temas populares do nosso imaginário musical colectivo. (…) Enaltecendo as raízes profundas de uma herança colectiva, Celeste Rodrigues criou um vastíssimo legado, de importância central no património histórico do Fado: Esquina da Minha Rua, Lenda das Algas, Gaivota Perdida, Limão Verde Limão, Esta Lisboa, Fado Celeste, Praia de Outono, Meu Amor é Longa a Noite, Meu Nome Baila no Vento, Fado das Queixas, Eu Dantes Cantava, Marcha de Alfama, Silêncio Cala-te Vento, são apenas alguns dos temas que inscreveu no nosso imaginário colectivo. Criadora de um estilo inconfundível, Celeste Rodrigues fez do canto fadista a arte interpretativa por excelência. (…)
Para todos os que com ela conviveram, Celeste Rodrigues foi – é – um exemplo e uma inspiração. A sua integridade, artística e humana, contagiou o coração de artistas de diferentes gerações e de distintos estilos musicais. Aclamada pelo público e profundamente acarinhada pelos seus pares, Celeste Rodriguestransformou-se numa referência central para as mais jovens gerações do Fado, que na sua figura matriarcal sempre encontraram o conselho e a amizade, assídua e generosa.
“Desci pela escada da madrugada a tentar sorrir para o mundo…”. Assim começava o livro de memórias de Celeste Rodrigues, nunca concluído. Memórias que Diogo Varela Silva, seu neto, partilha nas páginas do livro que acompanha esta exposição e através das quais podemos atestar quão extraordinária e inteira foi esta mulher, em todas as pessoas que foi. Por isso mesmo se reúnem aqui tantos testemunhos, de familiares, amigos e companheiros de viagem, celebrando a eterna Celeste e o legado maior de integridade, humanidade e arte com que continuará a inspirar-nos a todos.”
Sara Pereira, Directora do Museu do Fado