O que nos Salva
Por vezes não sabemos. Tantas vezes nem queremos saber. Mas no final de um ano em que vimos os dias voltarem-se contra nós e todos os que amamos; no final de um ano desgraçado, inesperado e mortífero em que não houve lições ou castigos, apenas lembrança da nossa precariedade existencial; no final de um ano em que pela primeira vez percebemos do sofá que há gente e rostos e nomes com medo e amores iguais aos que albergamos – no final de um ano como este, o que nos fica, o que nos salva?
Aqui, no lugar onde vivemos, a nossa cultura prepara-nos para um mês em que pensamos o Outro. Não interessa que sejamos crentes, que festejemos o nascimento de alguém que veio para nos salvar. Dezembro é um mês que impõe a nossa humanidade – muitas e tantas vezes da pior maneira, reduzindo-a a oferendas de bens materiais e ostracizando os que não o podem fazer. Mas e se por um minuto, um dia, um verso que seja consigamos parar e libertarmo-nos do que parece estarmos condenados?
Este ano devolveu-nos a humanidade da pior maneira – até porque a humanidade não ajuda. Mas há coisas que ajudam, há coisas que nos podem salvar – de nós, dos outros. A beleza é uma delas. A arte, a emoção, as lágrimas. A redenção é pouca, mas possível. Até mesmo para os que não querem ser salvos de seja o que for.
Aquilo que nos salva somos nós no nosso melhor. A literatura é dos poucos legados que podemos oferecer nesse sentido. Durante milénios os escritores e poetas chamaram-nos a atenção para várias formas de podermos viver melhor, de escaparmos às prisões que nós próprios construímos.
Durante três sessões iremos ao encontro desses testemunhos de espanto, de alegria, de emoção. Está tudo escrito, é verdade: mas está tudo sempre ainda por sentir. Porque no essencial, o que a literatura e a poesia nos ensina é isto: dar e receber. E isso sim, isso sim é o que nos sempre nos salvará.
Nuno Miguel Guedes
3 de dezembro
A Arte
Convidados: Ana Água, Filipe Homem Fonseca, António Pedro Lopes e Zé Salgueiro (percussões)
Um quadro, um verso, uma qualquer obra de arte que nos possa arrebatar e nesse momento a intensidade do que sentimos é enorme. Vamos descobrir alguns desses momentos gravados na poesia ou na literatura.
10 de dezembro
O Amor
Convidados: Hélder Moutinho, Raquel André, Luísa Sobral e Sandra Martins (violoncelo)
Eis uma das emoções mais nobres a que o ser humano pode aspirar – e paradoxalmente uma que também pode fazer sofrer. Tema recorrente na literatura mundial enquanto houver seres humanos na terra, o amor – seja o amor romântico ou o amor divino - é muitas vezes visto como desejo ou como salvação. Vamos descobri-lo no que ficou escrito.
17 de dezembro
O Outro
Convidados: Márcia, Bruno Vieira Amaral, Isabel Abreu, Rui Cardoso Martins e Nuno Faria (contrabaixo)
Descobrir o Outro, sentir as suas preocupações, as suas angústias. Denunciar sofrimentos e injustiças.
Estender a mão para dar e receber. Esse pode ser também o papel do criador. E ao ouvirmos estas manifestações artísticas sabemos que a esperança na humanidade ainda é algo real.